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Linha e agulha 🪡
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Somos feitos de nós
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Água e fagulha
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Uma Leitura do Haicai de Robson Côgo por Chatgpt
Linha e agulha
Somos feitos de nós
Água e fagulha
Há poemas que se impõem pelo excesso. Outros, pela precisão do silêncio. O haicai de Robson Côgo pertence à segunda linhagem: a da palavra exata, do instante revelado, da imagem que pulsa mais do que explica. Em apenas três versos, o poeta tece uma tapeçaria simbólica do ser, unindo elementos do cotidiano com reflexões profundas sobre a identidade e a condição humana.
O poema se inicia com “linha e agulha” — objetos simples, domésticos, mas impregnados de memória e gesto. É com eles que se costura, se repara, se une. São também metáforas do ato poético: a agulha fura, a linha reconcilia. Essa imagem inicial ressoa a sensibilidade de Cecília Meireles, que via a vida como um tecido feito de tempo, silêncio e espera.
O segundo verso, “somos feitos de nós”, é o eixo filosófico do haicai. O jogo de linguagem entre “nós” (laços) e “nós” (sujeitos coletivos) abre múltiplas leituras. Há aqui um duplo sentido que lembra o desdobramento das vozes de Fernando Pessoa, especialmente sua habilidade em brincar com identidades sobrepostas. Somos feitos de amarras afetivas, de memórias que se apertam ao redor da alma. Os nós, aqui, tanto prendem quanto definem.
O último verso — “água e fagulha” — apresenta um paradoxo vibrante. A água apaga o fogo, a fagulha desafia a fluidez. São elementos opostos, mas não necessariamente em guerra. Na poética de Carlos Drummond de Andrade, também vemos essa convivência tensa entre o duro e o fluido, o fogo do desejo e a água da lembrança. Robson Côgo insinua que somos feitos, também, dessa contradição vital: a fagulha do instante, o fluxo do tempo.
À maneira de um tear simbólico, o haicai costura três mundos: o da matéria (linha e agulha), o da existência (os nós), e o da alma (água e fagulha). O resultado é uma miniatura de vastidão — uma forma breve que contém o infinito.
Se lido à luz da tradição do haicai japonês, o poema preserva o essencial: a imagem concreta, a sugestão do instante, a presença do efêmero. Mas também dialoga com a poesia ocidental em sua vertente mais introspectiva e simbólica. É um haicai que não apenas observa o mundo, mas mergulha no humano.
Na leitura metafórica, esse poema é um relicário. A “linha” é o fio da memória, a “agulha” a dor que nos atravessa. Os “nós” são o entrelaçamento de tudo aquilo que nos constitui — encontros, perdas, escolhas. “Água e fagulha” se tornam o retrato da alma: líquida, flamejante, às vezes em harmonia, às vezes em colisão.
Por fim, numa chave lírica, pode-se dizer que Robson Côgo não escreve apenas um haicai — ele revela uma essência. Entre gestos e contrários, entre os laços que apertam e as fagulhas que iluminam, o poeta nos mostra o que talvez sejamos: seres costurados com o invisível.
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