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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Reflorestamento por semeadura aérea na Serra do Mar



O IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, possui hoje capacitação multidisciplinar para atuar em projetos de recuperação ambiental. Essa competência começou a se desenvolver com maior intensidade na década de 1980, tendo como caso exemplar um projeto inovador de reflorestamento da Serra do Mar na cidade paulista de Cubatão.


Pelotas de gelatina contendo sementes em germinação
A cidade vivia então um forte processo de degradação ambiental. Os 23 complexos petroquímicos, siderúrgicos e de fertilizantes instalados próximos às encostas elevaram a poluição a índices alarmantes, destruindo parte da Mata Atlântica nessa área. Desencadeou-se um grave processo de erosão que agravou os deslizamentos na Serra do Mar, colocando em risco áreas industriais e urbanas.
Em 1985, começaram a ser delineadas estratégias para recuperar a cobertura vegetal devastada. Após quatro anos de discussões, pesquisadores chegaram a um modelo inédito no país para a recuperação da floresta, a semeadura aérea, técnica comum em países como Canadá, Japão, EUA, Austrália e Nova Zelândia desde a década de 1920.
Estudiosos do IPT, do
Instituto Florestal (IF) e do Instituto de Botânica (IBt), sob a coordenação da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), reinventaram a metodologia. Os pesquisadores da Divisão de Geologia do IPT mapearam inicialmente as áreas prioritárias onde deveria ocorrer o replantio de acordo com as condições de estabilidade e, em seguida, as equipes partiram para o estudo das espécies que haviam morrido e aquelas que seriam mais adequadas às condições da região.

Semeadura aérea da Serra do Mar - crédito: Maurício Simonetti
Eles retiraram amostras de tocos de árvores mortas da região e fizeram uma comparação com exemplares da Xiloteca Calvino Mainieri, do IPT. Esse procedimento foi importante para identificar as espécies presentes nas áreas contaminadas. Em seguida, os pesquisadores escolheram aquelas com maior chance de sobrevivência.
O próximo passo foi encontrar uma maneira de espalhar as sementes pelos solos com o menor índice possível de perdas. O desafio era fazer as sementes chegarem ao chão sem deixá-las presas aos arbustos ou dispersas pelo vento, em função do pouco peso e volume. A solução encontrada pelos pesquisadores da Cetesb foi a peletização das sementes em gel hidrofílico, um material desenvolvido na Divisão de Química do IPT com propriedades para manter os nutrientes e a umidade, e de características semelhantes às de uma bolinha de gelatina transparente. A gelatina também impede a dispersão das sementes pelo vento e facilita sua fixação no solo.
Além de desenvolver os peletes, os pesquisadores da Cetesb construíram uma máquina para ‘embrulhar’ as sementes com maior rapidez. O equipamento tinha uma dezena de bombinhas e produzia 500 quilos de peletes/dia.
Faltava agora conseguir as sementes. Como no país não existia um banco de onde elas pudessem ser retiradas para esse tipo de tarefa, dez mateiros realizaram a colheita na própria floresta. Para esparramá-las de maneira direcionada e rápida, foram utilizados um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) e um avião agrícola para uma operação semelhante à dispersão natural das sementes. A primeira semeadura foi realizada em fevereiro de 1989.
A semeadura aérea culminou em altos índices de sobrevivência das árvores e teve ótimos resultados em solos nus e com vegetação rasteira nativa, mas foi menos efetiva em áreas de arbustos e onde havia braquiária, um tipo de capim bastante agressivo.