segunda-feira, 13 de outubro de 2014

As cidades diante de grandes desafios, planejadas para receber carros, precisam se reinventar para acolher as pessoas de maneira sustentável


Carros, carros e mais  carros. As cidades crescem e com isso  surge a necessidade de locomoção. Como solução mais prática constroem-se vias para automóveis, ônibus e  motos que são circundadas de prédios. A consequência  são os engarrafamentos e as concentrações urbanas em polos das grandes e médias cidades. Mas, e as pessoas? Onde elas ficam nessa equação? É possível integrar as pessoas com as cidades, que estão preparadas prioritariamente  para os carros?

As respostas para essas questões são os principais desafios da construção civil, que busca alternativas para integrar o crescimento populacional  com a mobilidade e atenção às pessoas.
Rafael Valente, diretor de Gestão Sustentável  da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-BA), acredita que as cidades não estão preparadas para as pessoas, mas precisam começar a repensar os seus padrões.


“No Brasil, a maioria dos municípios foi construída com o objetivo de privilegiar os carros em detrimento dos pedestres, por isso hoje temos passeios apertados, esburacados, com árvores inapropriadas e que tornam desagradável e até perigoso o caminhar. Em Salvador, a revitalização da orla da Barra é um  exemplo de devolução da cidade para as pessoas e a pista virou um enorme calçadão”, diz Valente, que participará  do V Fórum de Sustentabilidade da Ademi, que ocorrerá  dia 23 de outubro, em Salvador, e terá o futuro das  cidades como tema.
Um dos desafios para as cidades é fazer adaptações das construções atuais para receber a ‘cultura das cidades para pessoas’.  “Precisamos do apoio do estado para aplicarmos essa nova cultura, pois um bom exemplo são os muros e cercas que separam os condomínios das ruas, são necessários devido à falta de segurança que sentimos e se tivéssemos mais segurança poderíamos não ter cercas e muros e integrarmos o térreo das nossas edificações com o bairro”, argumenta Valente.
Valente defende a verticalização como uma ferramenta para a que as cidades se tornem mais compactas e com isso aliem as questões sustentáveis de deslocamento da população. “As cidades compactas precisam ser verticalizadas e quando verticalizamos, reduzimos os deslocamentos e os custos com infraestrutura, para isso precisamos de um melhor transporte público. Salvador, por exemplo, é dividida em zonas que impactam num maior deslocamento diário, temos a região para trabalhar e a região para morar, precisamos de bairros mais completos que reduzirão esses deslocamentos”, defende.
Legislação
Especialista em Direito Imobiliário, o advogado Bernardo Chezzi indica que uma metrópole deve priorizar os pedestres e não os carros, integrar o uso residencial como o comercial, reocupar o centro, possibilitando menos deslocamentos com o uso do carro e, bem assim, menor consumo de recursos fósseis.
Porém, essa intervenção impacta nas legislações das cidades, que nem sempre estão preparadas para promover alterações. “Cidades como São Paulo já deram passos contundentes em sua legislação para estimular a cidade compacta. O novo PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano) da capital paulista prevê o adensamento planejado nas regiões de maior infraestrutura, o estímulo a empreendimentos mistos com a gratuidade de instalação de áreas comerciais conforme o caso, maiores passeios e incentivo a uma arquitetura menos fechada, com fachadas mais humanas e que dialoguem melhor com a cidade”, informa.
Hoje, a pauta do mundo, segundo Bernardo, está em três conceitos, cidade compacta, inteligente e sustentável. “O menor uso de recursos fósseis, tão buscado pelas cidades compactas, junto com edifícios inteligentes que utilizem melhor os recursos naturais, são realização das cidades sustentáveis”, diz.
Exemplos
A arquiteta dinamarquesa Helle Søholt integra o  escritório Gehl Architects que, nos anos de 1970, reformulou o projeto de mobilidade de  Copenhague, na Dinamarca. Ela desenvolve projetos  em várias cidades do mundo, com São Paulo, por exemplo, onde o desafio é  transformar regiões em espaços para as pessoas. “O  foco das cidades  deve ser as pessoas.  As cidades devem ser feitas para  e por pessoas”.
Em Copenhague,  a principal rua da cidade foi transformada em espaço exclusivo para bicicletas através da consultoria do Gehl Architects. Outras cidades do mundo apostam nessa iniciativa, além da construção de parques e áreas integradas para pedestres como é o caso de Nova York, nos Estados Unidos. Mas também há iniciativas em cidades de países em desenvolvimento como é o caso da Cidade do Cabo, na África do Sul, que  ampliou os espaços públicos.
Chezzi destaca que há mais inspirações ao redor do mundo de cidades que adotaram práticas que favorecem a integração das pessoas com os outros elementos da cidade. “Bogotá (na Colômbia) e Curitiba (no Paraná)  institucionalizaram o uso das bicicletas em todas as ruas antigas e nas novas, com meios de transporte de massa para deslocamentos horizontais maiores. Campinas (São Paulo)  limitou a expansão urbana, criando bolsões verdes nas áreas periféricas e estimulando a verticalização no centro. Barcelona (Espanha)  possui uma legislação municipal onde todos os prédios podem ser multiuso”,  diz o advogado.
Soluções
As construções de novos empreendimentos imobiliários que pensam na integração com a sociedade são diferenciais na compra e venda. A empresária Valéria Ribeiro, por exemplo, adquiriu um imóvel de três quartos na Avenida Paralela depois que encontrou um condomínio que ficava próximo da escola para os filhos e do seu trabalho em função da mobilidade.
“Isso foi decisivo quando eu pensei em comprar meu apartamento. Já tinha me encantado por outros imóveis, mas a facilidade de ter tudo próximo de mim foi fundamental. Tempo hoje custa muito e perder ele em deslocamentos é ter muito prejuízo”, destaca.
O diretor de Gestão Sustentável  da Ademi-BA ressalta que as empresas de construção têm papel fundamental no desenvolvimento a longo prazo dessas práticas sustentáveis de desenvolvimento.
“A construção civil tem um papel importantíssimo nesta missão e em conjunto com a sociedade e o poder público conseguiremos atingir resultados. Os novos empreendimentos já devem ser pensados alinhados com essa nova filosofia e as soluções de engenharia e arquitetura devem ser criadas e copiadas do mundo inteiro para transformar as nossas cidades em cidades mais sustentáveis e inteligentes para as pessoas”, esclarece Valente.
Fonte; http://www.correio24horas.com.br/
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