Escassez de aves tem impacto na evolução de árvores da mata atlântica
Fonte. http://souagro.com.
Cristina Rappa
Não era nenhuma novidade a importância das aves como polinizadoras e dispersadoras de sementes, contribuindo para a regeneração natural das florestas. Mas estudo liderado pelo biólogo Mauro Galetti Rodrigues, do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Rio Claro (SP), e publicado na conceituada revista científica Science no final de maio mostrou que a queda na população de aves frugívoras de grande porte, como tucanos e arapongas, capazes de se alimentar de frutos com sementes grandes, pode estar associada à redução do tamanho das sementes de certas espécies de plantas da mata atlântica.
No estudo, que contou com recursos da FAPESP, a agência oficial paulista de fomento à pesquisa, os pesquisadores estudaram a ecologia de uma palmeira conhecida como palmito-juçara (Euterpe edulis), que, além de ter importância econômica, é fonte de alimento para mais de 50 espécies de aves da mata atlântica, como papagaios, sabiás e tucanos. Observaram que nos locais onde essas aves de maior porte haviam sido extintas há mais de 50 anos, seja pela caça predatória como pelo efeito do desmatamento, as populações do palmito-juçara produziam apenas frutos pequenos; enquanto que nas áreas com maior quantidade de aves, elas produziam frutos de tamanhos variados, com sementes grandes e pequenas. Isso porque onde só há aves com bicos menores, as sementes dispersadas são menores, levando a uma seleção, com o tempo, pela produção de apenas frutos com essas sementes. A conclusão dos resultados do estudo é que o impacto humano sobre a população de aves ajuda a selecionar rapidamente plantas com sementes pequenas, podendo desencadear mudanças ecológicas significativas e conseqüências negativas para o ambiente e para a economia – e neste caso, também para a gastronomia – , uma vez que sementes pequenas apresentam maiores índices de mortalidade devido ao dessecamento.
A degradação da mata atlântica, importante bioma brasileiro do qual restam menos de 12% de sua cobertura original, é a principal causa da queda na população dessas aves, além da caça e do tráfico de animais silvestres. Para o biólogo Galetti, as perdas podem ser minimizadas com o crescimento da conectividade entre os fragmentos restantes da floresta, para estimular o fluxo gênico, e o aumento da fiscalização para coibir a caça das aves e também o contrabando ilegal do palmito.
O projeto coordenado por Galetti chama-se Efeitos de um gradiente de defaunação na herbivoria, predação e dispersão de sementes: uma perspectiva na Mata Atlântica.
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