sexta-feira, 28 de junho de 2013

Reportagem - RESERVA VALE DO RIO DOCE


Histórico:
A Reserva se formou a partir de 1951, quando a Companhia Vale do Rio Doce adquiriu as primeiras propriedades na região. O objetivo desta aquisição era formar um estoque de madeira para a produção de dormentes, que seriam utilizados na Estrada de Ferro Vitória a Minas, de sua propriedade. Havia plena consciência de que, num curto espaço de tempo, as florestas desapareceriam e, portanto, estaria comprometido o fabrico de dormentes.
Ao longo dos anos, diversas alternativas de uso da Reserva foram apresentadas, mas nenhuma efetivada. Desta forma, a cobertura florestal observada é a mesma da época de aquisição das propriedades. Entretanto, em todo o seu entorno, as formações originais foram quase que totalmente dizimadas, exceção à região confrontante com a Reserva Biológica de Sooretama. Elas foram substituídas por pastagens e plantios de cana-de-açúcar na forma tradicional, onde nem mesmo as matas ciliares foram protegidas.
As grandes dificuldades no início da administração da Reserva foram as invasões de terras e a existência de quadrilhas especializadas no roubo de Jacarandá.
No ano de 1973, a partir de um convênio entre a CVRD e o Ministério das Minas e Energia, foi instalada a primeira pesquisa silvicultural com as espécies ocorrentes, com o objetivo de conhecer espécies aptas à recuperação das áreas de empréstimo às margens dos lagos construídos para a produção de energia elétrica.
A partir de 1978, a Companhia Vale do Rio Doce adotou uma política florestal e ambiental rígida e dinâmica, que tinha como finalidade a pesquisa e a manutenção. Essa nova postura colocou a CVRD na vanguarda do hoje desejado desenvolvimento sustentado.
Atualmente, a Reserva tornou-se um referencial obrigatório para os que estudam e lidam com o ecossistema tropical, servindo como base de treinamento para agricultores e profissionais dessa área. Estima-se que a CVRD tenha investido cerca de US$ 14 milhões na Reserva desde a aquisição das primeiras propriedades até os dias de hoje.
Em 1998, a CVRD, em conjunto com o Banco Mundial, concluiu o Plano Diretor de Uso da Reserva que estabeleceu as diretrizes para proteção ambiental e auto-sustentação econômica.
Além de protegido por lei, a reserva se tornou um ponto sagrado do território capixaba, por ser um raro trecho contínuo remanescente das lendárias selvas do vale do rio Doce, que fascinaram os visitantes europeus até o fim do século passado. Essas florestas foram quase todas cortadas neste século, entre 1900 e 1970.
A Reserva Florestal de Linhares é o único pedaço íntegro desse fascinante ecossistema e está ligada diretamente à Reserva Biológica de Sooretama, uma unidade de conservação federal, administrada pelo Ibama, e que a Vale ajuda a preservar, sobretudo no que diz respeito à proteção contra caçadores e incêndios florestais.
Plano Diretor:
Para manter a sua finalidade de preservação, conservação e pesquisa, com ênfase no uso sustentado dos recursos naturais e no desenvolvimento de tecnologia para recuperação de áreas degradadas, a Reserva Natural Vale desenvolveu um plano diretor, com programas que a tornam auto-sustentável.
Uma das diretrizes do plano foi a de abrir a reserva ao público. Antes só acessível a pesquisadores e pessoas convidadas pela empresa, a área também está aberta à visitação para interessados em conhecer a deslumbrante Mata Atlântica e usufruir sua beleza, relaxar ao som das inúmeras aves e estabelecer um contato mais próximo com a natureza, através de trilhas na floresta.
Aspectos Físicos e Biológicos:
A Reserva Natural da Vale do Rio Doce localiza-se ao norte do Estado do Espírito Santo, predominantemente, no município de Linhares com uma pequena abrangência nos de Sooretama e de Jaguaré, perfazendo uma área total de aproximadamente 22.000 há.

Quanto à hidrografia, os cursos d'água existentes na área da Reserva fazem parte da Bacia do Rio Barra Seca. Os córregos João Pedro, Esperança, Pau Atravessado, Dourado, Alberico e Travaglia são os principais tributários do Rio Barra Seca.

Rio Barra Seca
O clima da área da Reserva é quente e úmido, com estação chuvosa no verão e seca no inverno. Na localidade de Linhares, os excedentes hídricos são bastantes reduzidos, ao redor de 47 mm, e a deficiência distribui-se de janeiro a setembro com 66 mm.

Flora e fauna:
Além da preservação, são desenvolvidas na área pesquisas científicas de importante repercussão para o meio ambiente e essenciais para o conhecimento e descoberta de novas espécies de fauna e de flora. Desde que foi adquirida pela Vale, nos anos 50, até hoje, já foram catalogadas na reserva 2.650 espécies botânicas, 7.200 tipos de insetos e 100 de mamíferos. Foram identificadas também 16 espécies de peixes, 369 espécies de aves, que correspondem a 25% das aves brasileiras e 5% de todas as aves do mundo.
As pesquisas desenvolvidas com a fauna têm como foco o conhecimento da riqueza e diversidade e em aspectos ecológicos relacionados à conservação das espécies. Entre estas pesquisas, destaca-se o Projeto Felinos, que monitora desde 2005 as espécies de felinos presentes na reserva, por meio de armadilhas fotográficas. A partir desse projeto já foi possível identificar nove onças-pintadas (Panthera onca) na reserva, que representam uma das últimas populações desde tipo de felino da Mata Atlântica.

Dentre os grandes mamíferos observados com freqüência, podem ser citados a anta, porco-do-mato e veado. Com menor frequência a onça-pintada, suçuarana (onça-parda), jaguatirica, gato-do-mato. Os primatas observados são o guigó, macaco-prego, sagui-da-mata e o sagui-da-cara-branca. Os roedores mais comuns são a cutia, paca e a capivara.

                         Porco-do-mato                                 Gato-do-mato                       Guigó
A Reserva Natural da Vale é reserva genética do jacarandá (a mais valiosa árvore do mundo), da macanaíba, da sapucaia,da peroba amarela, do jequitibá-rosa, do paraju, do ipê e de outras espécies importantes da flora tropical, como a castanha do Pará, cuja preservação é garantida pela implantação de um banco genético na Reserva.

          Ipê-amarelo                                                                          Sapucaia
Apenas em jacarandá, madeira já extinta comercialmente e que só existe hoje no norte do Espírito Santo, sul da Bahia e leste mineiro, a reserva possui, o equivalente a 50 milhões de dólares. Um corte raso de toda a madeira existente na reserva, daria uma receita bruta de 1 bilhão de dólares.

Jacarandá
Os pesquisadores da reserva desenvolveram tecnologia para recuperação de florestas secundárias e de proteção e recuperação das margens dos corpos d'água (nascentes, córregos, rios e lagoas). Esta tecnologia de recuperação é difundida por todo o Brasil através da implantação de diversos projetos de restauração não somente nas áreas mineradas da Vale, mas também nas comunidades onde ela atua.
No Espírito Santo, através de um convênio com o governo do Estado, foram implantados quatro grandes projetos envolvendo diversas propriedades rurais e unidades de conservação em Cachoeiro do Itapemirim, Guarapari, Santa Maria do Jetibá e Pinheiros com mudas produzidas no viveiro da Reserva.
Proteção Ecossistêmica:
Desde a compra das primeiras propriedades, muitas foram as dificuldades enfrentadas pela administração da Reserva. Podem ser citadas as tentativas de invasão de terra, a caça e a coleta de plantas, a existência de quadrilhas especializadas, também na tentativa no roubo de madeira, especialmente o Jacarandá da Bahia e a ocorrência de focos de incêndio de natureza criminosa. Desta forma, a atividade de proteção da Reserva é uma luta diária e incansável e hoje restrita às atividades de caçadores e ao controle e combate aos incêndios florestais.
O Programa de Proteção Ecossistêmica visa à manutenção da integridade do ecossistema, garantindo a sua evolução natural, a manutenção da biodiversidade e a minimização dos efeitos da fragmentação e contemplando também a segurança dos visitantes e de seus empregados. Para tanto, a Reserva Natural Vale dispõe de um sistema de proteção constituído por uma torre de observação, aceiros, estradas e agentes de proteção ecossistêmica equipados com caminhão contra incêndios, motocicletas e rádios de comunicação. Estes agentes percorrem diariamente os 126 km de estradas e os 142 km de aceiros associados a cercas. A manutenção destas vias é periódica, permitindo o livre trânsito em qualquer época do ano.
O monitoramento das áreas da Reserva é realizado através da avaliação contínua e sistemática do ambiente, visando o acompanhamento da evolução e o desenvolvimento dos projetos de pesquisa. O monitoramento é realizado por meio da coleta e do registro de parâmetros físicos e biológicos, permitindo assim a geração de uma base de dados contínua e de longo prazo.
Os efeitos associados à visitação pública são também registrados, de forma a permitir a calibração periódica da capacidade de suporte de cada uma das áreas da Reserva. Uma das ferramentas mais importantes para o monitoramento adequado da Reserva é o Sistema de Informações Geográficas - SIG, em base digital, que correlaciona todos os dados dos meios físico e biótico da Reserva, gerando imagens passíveis de interpretação e controle.
Zoneamento
O zoneamento da Reserva Natural da Vale do Rio Doce consiste na divisão da área em porções homogêneas, considerando as diferentes necessidades de proteção e os vários níveis de uso previstos, orientando-se assim as atividades que podem ser desenvolvidas em cada uma delas e as normas de utilização. Foram estabelecidas sete zonas diferenciadas para a Reserva:
Intangível- Ocupando 5,89% da área total, é a matriz de repovoamento de outras zonas e é destinada à preservação dos recursos naturais em sua forma primitiva, não sendo permitida a visitação do público em geral.
Primitiva - É refúgio para a vida silvestre e um banco genético, também de uso restrito, propiciando o desenvolvimento de pesquisas científicas. É o maior espaço da Reserva, 39,23%.
Uso Extensivo - Zona de transição entre as áreas mais restritas, como as citadas acima, proporciona alternativas de visitação controlada, realização de atividades educativas e ecoturismo. Ocupa 31,86% da área.
Uso Intensivo - É composta por áreas já alteradas, embora deva manter o ambiente o mais próximo possível do natural. Propicia atividades de recreação, lazer, hospedagem e ecoturismo. Ocupa 0,43% da área total.
Uso Experimental - Constituída por áreas onde foram implantados experimentos silviculturais de diferentes ecossistemas. Ocupa 3,42% da área.
Recuperação - Com 16% da área da Reserva, é constituída por áreas perturbadas pela construção de aceiros e estradas e pela própria fragmentação natural do ecossistema. Uma vez recuperada, será incorporada às zonas de caráter definitivo.
Uso Especial - Ocupa 3,17% da Reserva e abriga as áreas necessárias à administração e atividades gerais de suporte e manutenção, abrangendo toda a infra-estrutura, não acessíveis ao público visitante em geral.
Patrimônio mundial
Pelo seu estado de preservação e conservação das características ecossistêmicas, a Reserva Natural da Vale do Rio Doce recebeu em dezembro de 1999 da UNESCO (Órgão das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) o reconhecimento como Sítio do Patrimônio Mundial Natural da Costa do Descobrimento. É reconhecida como uma das Áreas de Conservação mais bem protegidas da América do Sul e um dos 14 centros de alta diversidade e endemismo do Brasil.
Viveiro:
A reserva detém o maior viveiro de mudas da América Latina, produzindo mais de 800 diferentes espécies tropicais e com ênfase na Mata Atlântica. São produzidas espécies florestais nativas para restauração da Mata Atlântica através da recomposição de matas ciliares, recuperação de áreas degradadas, recomposição de reservas legais, reflorestamentos para contenção de erosão e infiltração de águas pluviais, arborização urbana e reflorestamentos em geral.
Há alguns anos vem sendo desenvolvido na Reserva um trabalho inédito, que é a descrição das técnicas de colheita e beneficiamento de sementes de espécies florestais ocorrentes na região. Já foram descritos 203 procedimentos e, durante estas atividades, é realizada a caracterização do número de sementes por fruto e do período de frutificação.
A capacidade de produção anual é de 55 milhões de unidades e a comercialização dessas mudas para a Vale e terceiros, somada aos outros serviços prestados, assegura a total independência financeira da Reserva. Ao todo são trezentas instituições no Brasil e algumas no exterior, privadas ou públicas, que compram mudas de espécies da Mata Atlântica desenvolvidas em Linhares, escolhidas de acordo com seu interesse. Entre os principais clientes dessa reserva estão o Complexo Industrial do Porto de Tubarão, a Prefeitura de Vitória, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Valesul Alumínio S.A.


Visitação Publica:
O complexo reservado à visitação possui sete trilhas, com percursos que variam de 900 a 1500 metros com diferentes atrativos e que podem ser percorridas, em média, em cerca de uma hora tendo à frente um orientador ambiental recrutado, na própria região, e treinado pelos profissionais da Reserva.
Para lazer e conforto, a Reserva investiu na construção, ampliação e reforma das instalações de visitação e hospedagem. Possui também dois restaurantes, uma cafeteria e lojinha de suvenires onde são vendidos bonés, camisetas e outros produtos com a marca da Reserva. Para as crianças, há parquinho com brinquedos feitos à base de madeira de reflorestamento situado à sombra de cajueiros. A Reserva também oferece uma completa infra-estrutura para eventos como: dois auditórios, um centro de treinamento, estacionamento, enfermaria (para primeiros socorros).

















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