Trinta e um anos depois de o governo federal abandonar o projeto, esta terça-feira foi o dia em que o aeromóvel enfim fez a sua aguardada estreia em operação experimental em Porto Alegre. O motor de vento foi acionado para movimentar o veículo pela primeira vez nos trilhos que ligam o aeroporto Salgado Filho à estação da Trensurb, descongelando uma história simbolizada pelo antigo protótipo estacionado na elevada em frente à Usina do Gasômetro.
Em vídeo, assista à primeira viagem do aeromóvel:
Visto como opção futurista de transporte no Brasil e, ao mesmo tempo, questionado, o aeromóvel nunca foi unanimidade. No entanto, arrebanha apoiadores a rodo desde 2004. Foi quando o Ministério da Ciência e Tecnologia lançou um parecer técnico que recomendava o investimento na criação do engenheiro pelotense Oskar Coester. Dois anos depois, o caos aéreo fez explodir a preocupação com a infraestrutura dos aeroportos e, a reboque, com a facilitação dos acessos a eles. Por fim, a confirmação da Copa e da Olimpíada no Brasil, em 2009, consolidou a necessidade de se investir em novos modais de transporte.
O panorama tornou-se favorável para o aeromóvel deslanchar. Atrás da linha do aeroporto da capital gaúcha, formou-se um rastro de novas ideias de projetos.
Até agora, o único lugar onde o aeromóvel vingou comercialmente foi Jacarta, capital da Indonésia. Uma linha de 3,2 quilômetros com três veículos e seis estações funciona desde 1989 no Taman Mini Indonesia Indah — um parque temático que, resumidamente, pode ser descrito como uma miniatura do país. Lá, o veículo opera às quintas-feiras, sábados e domingos, de acordo com Johannes Hutapea, funcionário da Embaixada do Brasil em Jacarta que andou no transporte há dois anos. Segundo ele e outra funcionária da representação, o aeromóvel funciona a contento.
Na Capital, o traçado será curto como em Jacarta: pouco menos de um quilômetro. As pequenas distâncias são usadas pela oposição ao meio de transporte como uma limitação. Foi assim em 1982, quando o então ministro dos Transportes, o engenheiro gaúcho Cloraldino Severo, hoje com 75 anos e consultor em sua área de atuação, freou o ímpeto de Coester. Ele optou por não investir no projeto:
— O aeromóvel não é transporte de massa. Essa ideia de uma linha até a Zona Sul, por exemplo, é uma loucura. Para se deslocar terá de aumentar o número de motores. Aumentando a capacidade, a viga ficará gigantesca. Será preciso ter escadas rolantes. O custo ficará extremamente alto.
A Trensurb é a responsável pelo renascimento do aeromóvel. De acordo com o diretor-presidente da empresa federal, Humberto Kasper, o sistema provou ter um preço de implantação quatro vezes menor do que qualquer VLT (veículo leve sobre trilhos) em elevada — de US$ 20 milhões a US$ 25 milhões o quilômetro, ante US$ 80 milhões a US$ 100 milhões do concorrente. Quanto ao custo de operação, Kasper espera que seja avaliado na prática com a linha do aeroporto, mas acredita que deverá ser inferior ao dos ônibus. Ele contesta a observação de que o aeromóvel se limitaria a curtas distâncias e ao baixo número de passageiros:
— Temos um veículo para 300 pessoas, uma capacidade superior à de um ônibus articulado. E se o aeromóvel opera em uma linha de três quilômetros, não tem por que não funcionar em distâncias maiores.
O debate sobre o aeromóvel ainda deve durar. Mas, a partir de agora, começaremos a ter as respostas.
Em vídeo, veja como funciona o veículo que anda sem motorista:
Veículo movido a ar começa a ser "amaciado"
O sistema de R$ 37,8 milhões do aeromóvel, que ligará o terminal 2 do aeroporto Salgado Filho e a Estação Aeroporto da Trensurb começou a ser "amaciado" por volta das 19h de ontem. Esse, entre aspas, foi o termo usado por Diego Abs, o engenheiro da Aeromóvel do Brasil S.A. responsável pela obra. ZH acompanhou os primeiros movimentos do veículo com exclusividade, juntamente com outras 11 pessoas, entre elas o criador do aeromóvel, Oskar Coester, e o diretor da Trensurb, Humberto Kasper.
— O primeiro teste foi melhor do que a gente esperava. O que nos surpreendeu foi a estabilidade na curva — comemorou Coester.
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